sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Minha Santos


Hoje fazem 18 dias que não vou pra minha Terra.

Minha Santos,

lá, aonde tenho amigos, família, gente calorosa me esperando...

areia da praia, o mar, o porto, o centro, os morros, as anvenidas, os jardins...!

nesse calor infernal de são paulo, consigo escutar o murmurar das ondas, a gandaia em frente ao torto, o temaki, a barraca do tremendão, os shows no sesc, os amigos gritando: ludmiiiiiilla!

ver os navios saindo da ponta da praia, ir ao deck dos pescadores, tirar uma onda com a prancha, assistir ao pôr- do- sol, pegar a bicicleta sentir o vento batendo nos cabelos na ciclovia...

só comecei a sentir falta disso , quando parti daí pra cá!!!

numa terra que nem é tão tão tão distante! sinto falta...

se for dizer o nome de um por um, poderia esquecer de alguém, então fica aqui escrito, o quanto estou com saudades de todos, muita, não é pouco não...aquela saudade que chega a doer, mais quando passa, quando acontece o reencontro, o gozo é pleno, o sorriso escancarado, com os olhos cheios d'água confirmo: no feriado eu estou aí e vcs terão que me aguentar!!!!rsrsrs

uma bitoca e um abraço em cada amigo!!!

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

ai de mim!

Hoje,
fiquei o dia inteiro em casa, morgada, com uma gripe do cacete
corpo doendo, garganta inflamada e a televisão!!!
quanta desgraça, ai meu deus do céu da minha vida, chuva, apagão, roubo, tráfico, abatedouro de animais, morte, vida...
um turbilhão de notícias, só coisas ruins, bad's, toscas e trash.
o que nos motiva?
o que é o sensacionalismo, o exagero, o apelo emotivo???
isso faz parte de um processo histórico e cultural???
quando não é isso, é a vida do ator tal, da modelo, do empresário, do filho de não sei de quem, da mãe do fulano, do tamanho da saia da ciclana, quanta coisa instrutiva, quanta formação, informação, fomentação de coisas babacas!

o que eu farei a partir de agora?
vou assinar a TV paga e começar a assitir aos seriados babacas norte - americanos!!!???

adoro aqueles 30 minutos que a MTV dá para o expectador, na hora do programa eleitoral: "agora é a hora de você ler um livro"

aqui algumas dicas:

PROVOS - Amsterdam e o nascimento da contracultura
Fernando Pessoa e seus heterônimos
João Cabral de Melo Neto
Florbela Espanca
Clarice Lispector
Mário Quintana
Patativa do Assaré


Todos esses me inspiram , como ser, como artista.
Tem também os desenhos:

Doug Fanny
Os Simpsons
Os Jetsons
Speed Racer
Caverna do Dragão


Eles me divertem
Um dia disseram pra mim: você tem fixação na sua fase infantil!
Eu tenho!
Imagens que me apetecem:

Tarsila do Amaral
Picasso
Hélio Oiticica e seus Parangolés
Claude Monet
Di Cavalcanti
Volpi
Frida Kahlo

Esses deixam meu olhar com mais entusiasmo, por uma vida borrada de tinta uma representação visual através das cores.
Músicas que me fazem dançar:

Arnaldo Antunes
Chico Buarque
Zeca Baleiro
Chico César
Paulinho Moska
Otto
Tim Maia
Lulu Santos
Gabriel Pensador
Mono Bloco
Carlinhos Brow
João Bosco
Lô Borges
Marisa Monte
Elis Regina
Gilberto Gil
Caetano Veloso (já não sei se gosto tanto)


Toda essa mistura de sons, imagens e leituras me distraem da loucura e da tragédia humana,
da minha mesmo, me incluo em tudo, não abdico de minha culpa, mais me distraio dela!

sábado, 7 de novembro de 2009

olha o teatro

sozinha...
num quarto de hotel
cama de casal
chuveiro quente, café da manhã
esqueci...dormi, me ligam, me acordam, eu desço correndo...
encontram - se: nat, mig, antonio, pepe e cid, olham pra minha cara e perguntam?
"o que vc usou ontem?"
eu respondo: "o mesmo que vcs, o teatro, ahhh o teatro"

o teatro, o que o teatro faz com a gente?
me come, consome, divinamente...

me encontro, sozinha, só eu, sou eu , olhando para o palco, privilégio!
decorando meu papel, entrando na minha na sua vida, olha, é o meu zoológico, de vidro!?
meu aquário, de vidro?! meu queijo, meu picadeiro, minhas rotundas, minhas coxias, meus procênios, para sempre... o teatro me dá aquela sensação, o frio o quente, o bom o ruim, o errado o certo, o sacro o profano, a maconha o pó, o tabaco, o álcool...o mais sensível de meus momentos são aqueles que encontro - me só eu e ele: o Palco!

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

cada pessoa

Cada pessoa que passa em nossa vida, passa sozinha. É porque cada pessoa é unica e nenhuma substitui a outra. Cada pessoa que passa em nossa vida deixa tudo de si e leva um pouco de nós. Essa é a mais doce prova de que na vida as pessoas não se encontram por acaso.

domingo, 1 de novembro de 2009

O amor

Os Três Mal-Amados
João Cabral de Melo Neto

Joaquim:

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.
O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.
O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.
Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.
O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.
O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.
O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.
O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.


As falas do personagem Joaquim foram extraídas da poesia "Os Três Mal-Amados", constante do livro "João Cabral de Melo Neto - Obras Completas", Editora Nova Aguilar S.A. - Rio de Janeiro, 1994, pág.59.